Como seguir nesse mato fechado
Desse universo assim misterioso
E que transtorna a cada fila única
E que machuca a cada aprendizado
Esse momento que é tão generoso
Meu pai diria que é tão proveitoso
Sou eu que vejo as coisas muito tortas
Naquela rua que estão todas mortas
Estou aqui na raiz do meu berço
Outra realidade que conheço
Quase parando para um recomeço
Talvez não tenha, talvez no momento
Somos os filhos dessa gota d’água
Que transformou-se assim numa lagoa
Se a vaidade bebe desta água
E te convida pra ser um à toa
Como é que faço pra sangrar meu pulso
Por essa gente que não se balança
Como é que chora por uma mudança
Se entrelaçada vive bem em silêncio
Mais um segundo nesta área vesga
Sinto um profundo nojo de cinismo
Numa das caras dessa nova chapa
Que emplaca agora toda essa tristeza
Não ando noutra margem desse espaço
Que todo dia espero que amanheça
Vou esperando assim o meu salário
Se eu reclamar, talvez já me esqueçam
Esse mundinho cada vez mais pobre
Não fala nada é tão acomodado
E se pobre saber de outra coisa
Esse é o pobre que come calado
Esta é mais uma obra de João Herbert.
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