segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Marcelo Camelo. Sou. 2008.



Marcelo Camelo consegue avançar num trajeto que, de certa forma, Los Hermanos tinham empacado. O da transição do rock — o melhor feito no Brasil na última década — rumo a uma música livre para passear por diferentes ritmos e sotaques. E “Sou”, a estréia solo de um dos cantores, compositores, guitarristas e barbudos do grupo, é admirável nesse sentido. Ele atira para diversos lados e quase sempre acerta. Também consegue manter a atenção num CD inteiro, mesmo sem o contraponto (que sempre funcionara a favor do grupo) do “hermano” Rodrigo Amarante.

Ainda tem rock, muito bem executado em quatro faixas por ele e pelo Hurtmold (interessante grupo paulistano de tinturas progressivas, que, em julho passado, abrira no Circo Voador o show dos “British brothers” Magic Numbers), como se ouve na épico-psicodélica “Mais tarde”. Também tem canção pop assoviável e cativante, “Doce solidão”; flertes com samba-reggae (“Vida doce”); carimbó (“Menina bordada”); e música clássica (nas duas que são apresentadas em duas versões, pela voz e pelo violão de Camelo ou pelo piano de Clara Sverner, a balada de tons medievais “Saudade” e o tema de tintura impressionista “Passeando”); tem até marchinha carnavalesca, que poderia ter sido inscrita no concurso da Fundição, “Copacabana”, embalada por envenenado naipe de metais.

Rico em detalhes, como as quase vinhetas no fim de certas faixas, Camelo sobrevive no deserto, longe de seus “hermanos”.

Postado por: João Herbert

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expressar faz bem...